Assunto do mês

 

O trabalho deste mês foi-nos enviado por um aluno da Escola Superior de Enfermagem de Bissaya Barreto.
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Drenagem Torácica

Sumário

INTRODUÇÃO

1. DRENAGEM TORÁCICA - GENERALIDADES

1.1. Indicações para drenagem torácica

1.2. Princípios em que se baseia a Drenagem Torácica

1.2.1. Acção gravitacional

1.2.2. Pressão Positiva Intrapleural

1.2.3. Pressão Negativa no sistema

1.3. Local de inserção do catéter torácico

1.4. Sistemas de drenagem

1.4.1. Sistemas de Selo de Água

1.4.2. Sistemas Valvulares

1.4.2.1. Válvula de Heimlich

1.4.2.2. Catéter de Baixo Fluxo

1.4.3. Drenagem Passiva

1.4.4. Drenagem Activa

1.4.5. Sistemas Descartáveis

1.5. Riscos e complicações

1.6. Clampagem do sistema de Drenagem Torácica

2. ACÇÕES DE ENFERMAGEM

2.1. Antes e durante o procedimento

2.2. Depois do procedimento

2.3. Protocolo de Drenagem Torácica

2.4. Material necessário para a colocação de um dreno torácico

2.5. Técnica asséptica para remoção de drenos torácicos

3. DRENO TORÁCICO E ACTIVIDADE FÍSICA

4. AUTO-IMAGEM E AUTO-CONCEITO

BIBLIOGRAFIA

 

Lista de abreviaturas

ACT - Tempo de coagulação activada

CC - Centímetros cúbicos

CM - Centímetros

DL - Decilitros

G - Gramas

H2O - Água

ML - Mililitros

 

Introdução

Numa primeira parte, abordaremos a fisiopatologia da drenagem torácica e seu funcionamento, seguido das respectivas acções de enfermagem. Referiremos também o material necessário para a colocação de drenos e a técnica asséptica para a sua remoção.

A realização deste trabalho foi possível com base na pesquisa bibliográfica realizada sobre o tema.

Não pretendemos fazer uma abordagem exaustiva sobre o tema em questão mas salientar os aspectos que se nos afiguram mais importantes.

 

1. Drenagem Torácica - generalidades

A pleura possui dois folhetos: um visceral, aderente ao tecido pulmonar e um parietal, aderente às estruturas da parede torácica. Esta dupla aderência é a responsável pela manutenção da expansão torácica, ao longo do ciclo respiratório. Sem essa força de tracção o tecido pulmonar estaria permanentemente colapsado em torno dos ramos brônquicos.

O espaço pleural - espaço virtual entre os dois folhetos - é ocupado pelo líquido pleural. Este líquido tem por função reduzir o atrito entre os folhetos pleurais, durante o movimento respiratório.

Este líquido é composto por:

 

Volume: 1 a 2 ml em cada espaço

Proteínas: 1,77 g/dl

Células : 4.500/ml

Monócitos - 54 %

Células degenerativas - 30 %

Linfócitos - 10 %

Polimorfonucleares - 4 %

Células mesoteliais - 5

 

Um aumento patológico deste volume líquido (por sangue, exsudados, etc.) vai afectar a força aspirativa do espaço pleural. O mesmo se verifica  se existir ar no espaço pleural. A pressão negativa preexistente, resultante do campo de forças exercido pelo tecido pulmonar e pela pressão intra-pleural colóido-osmótica, vai então diminuir (ou mesmo ser anulada), com consequente colapso pulmonar (parcial ou total).

As trocas gasosas a nível alvéolo-capilar dependem de diversos factores, de entre os quais salientamos:

1) volume circulante de sangue saturado de dióxido de carbono, nos capilares pulmonares;

2) a quantidade de oxigénio que atinge o alvéolo;

3) a permeabilidade da membrana alvéolo-capilar.

 

Sempre que há um derrame, independentemente da sua etiologia ou do seu conteúdo (líquido ou gás), vai haver uma diminuição da superfície total disponível para a efectivação das trocas gasosas, isto é, vai ocorrer uma diminuição da capacidade vital e da compliance pulmonar.

Se essa colecção de líquido ou de ar atinge proporções que coloquem em risco a vida do doente dever-se-á proceder à sua remoção através de drenagem torácica.

A técnica da drenagem torácica consiste na colocação de um catéter torácico no espaço pleural, e a sua conexão a um sistema de drenagem.

Este sistema é composto por uma série de tubos e por um recipiente colector do produto drenado, colocados de modo a funcionar num único sentido (o do pulmão para o recipiente colector).

 

1.1. Indicações para Drenagem Torácica

A decisão de fazer uma drenagem torácica baseia-se em diversos factores, tais como:

- extensão do pneumotórax (mais de 20 % do campo pulmonar);

- sinais e sintomas apresentados;

- doença pulmonar subjacente

 

e é sempre uma decisão médica.

 

A presença de dificuldade respiratória, dor moderada ou severa e agravamento do derrame são indicadores para uma drenagem torácica.

 

Ao instituir-se uma drenagem torácica pretende-se:

1) Drenar para o exterior o líquido ou gás acumulados;

2) Restaurar a pressão do espaço pleural;

3) Reexpandir o pulmão colapsado.

 

As indicações mais comuns da drenagem torácica são:

- pneumotórax;

- hemotórax;

- pneumo-hemotórax;

- derrame pleural;

- fístula broncopleural;

- doentes sujeitos a cirurgia cardiotorácica;

- doentes sujeitos a ventilação mecânica que fazem barotrauma.

1.2. Princípios em que se baseia a Drenagem Torácica

 

A drenagem torácica pode executar-se por acção:

1) gravitacional;

2) de pressão positiva intrapleural;

3) de pressão negativa no sistema de drenagem.

 

1.2.1. - Acção gravitacional

O ar e/ou os fluidos deslocam-se de um nível mais alto para um nível mais baixo, isto é, deslocam-se dos valores de maior pressão para os de menor pressão. Ao colocar os frascos colectores a um nível inferior ao do tórax estamos a estabelecer um circuito cujo sentido é do tórax para os frascos. A inversão desse sentido leva a que seja re-introduzido o produto drenado na cavidade pleural, com consequente aumento do derrame e um agravamento do potencial para a infecção.

 

1.2.2. - Pressão Positiva Intrapleural

O ar e os fluidos em excesso contidos na cavidade pleural estão sob tensão, ou seja, estão sujeitos a um valor de pressão mais elevada que os contidos no frasco colector, colocado a um nível mais baixo que o tórax. esta pressão leva a que esse ar e esses fluidos sejam deslocados em direcção ao frasco colector.

Para esse aumento de pressão intrapleural contribuem, não só os líquidos ou o ar por si sós, como também a inspiração forçada e a ventilação artificial.

 

1.2.3. - Pressão Negativa no sistema

Este processo é o oposto do anterior. Ao ser aplicada, no sistema de drenagem, uma pressão inferior à existente na cavidade torácica estamos a forçar o movimento do líquido e do ar, contidos na cavidade pleural, em direcção ao frasco colector.

É um procedimento muito comum quando se pretende efectuar uma rápida depleção do líquido ou ar contidos na cavidade torácica - como por exemplo, após se ter quebrado o selo de água numa drenagem simples.

Realiza-se conectando o sistema de drenagem a um sistema de vácuo.

A pressão aplicada não pode ser muito grande (o máximo oscila entre -20 e -30cm H2O), pelo risco de se efectuar uma aspiração de tecido pulmonar (o que de modo algum se pretende, pois iríamos agravar ainda mais a situação do doente).

 

1.3. Local de inserção do catéter torácico

A introdução do catéter torácico é realizada por punção da parede torácica, no decurso da cirurgia ou, sob anestesia local, na unidade de internamento.

O local de inserção varia de acordo com o produto a remover e a sua localização. No entanto as vias mais comuns são:

 

a) no 2º ou 3º espaço intercostal anterior, na linha média clavicular (para drenar um pneumotórax);

b) no 4º a 6º espaço intercostal, na linha média axilar (para drenar líquidos).

 

A escolha destes locais tem a ver não só com as características físicas dos drenados (o ar tende a tomar uma posição mais elevada que o meio liquido) como também por se procurar puncionar locais em que a irrigação e a enervação não estejam no trajecto do catéter.

Pode haver necessidade de se colocar mais de um dreno no mesmo indivíduo e em locais diferentes dos atrás enunciados.

Idealmente a introdução de um catéter torácico deverá ser feita sob controle radiológico.

No entanto, sabe-se que por condicionalismos diversos (sobretudo estruturais, físicos e organizacionais) tal não é praticável. Na sua impossibilidade impõe-se que, após a colocação da drenagem torácica, seja feito um exame radiológico para controle da localização do catéter e despiste de intercorrências.

 

1.4. Sistemas de drenagem

Os sistemas de drenagem podem classificar-se:

a) quanto ao método de manutenção do sentido do circuito:

- de selo de água;

- valvulares.

 

b) quanto ao processo de drenagem:

- passivos;

- activos.

 

c) quanto ao equipamento:

- simples;

- de duplo frasco;

- de triplo frasco;

- descartáveis.

 

 

1.4.1. Sistemas de Selo de Água

Nos sistemas de selo de água, uma tubuladura tem uma das extremidades mergulhada (cerca de 2 cm) num fluido contido num vasilhame. A outra extremidade encontra-se conectada, directa ou indirectamente, ao catéter torácico.

A coluna de água que preenche a porção imersa da tubuladura vai funcionar como válvula unidireccional. A quando da expiração permite a passagem do produto drenado para o frasco colector (por se desenvolver no circuito uma pressão positiva) e, durante a inspiração impede o retrocesso desse drenado por se elevar uma coluna de água que estabiliza a diferença de pressão entre o frasco colector e a pressão intrapleural.

Este sistema pode ser constituído por um, dois ou três frascos ou por equipamento descartável.

É usado tanto em drenagens passivas como activas.

 

1.4.2. Sistemas Valvulares

Neste sistema, um dispositivo de dupla membrana, é interposto entre o catéter torácico e o colector. A acção combinada das membranas possibilita a passagem de ar e/ou dos fluidos, do tórax para o colector, mas não o seu retrocesso.

É um processo relativamente recente, mas que veio aumentar o nível de segurança na manipulação dos sistemas de drenagem torácica. Enquanto que se num sistema de selo de água, um frasco se parte ou um tubo se desconecta do catéter torácico, ocorre então entrada de ar através do catéter, indo provocar um pneumotórax hipertensivo, com as válvulas essa situação está minimizada.

Destes sistemas, os mais em voga são: a Válvula de Heimlich e; os catéteres de baixo fluxo.

 

1.4.2.1 Válvula de Heimlich

A Válvula de Heimlich é constituída por um tubo de plástico de cerca de 15 cm de comprimento, no interior do qual estão duas lâminas de borracha em íntimo contacto entre si. Os topos deste tubo são encerrados por uma conexão para o catéter torácico e outra conexão para o sistema colector.

A pressão exercida pelo líquido ou pelo ar nessas lâminas de borracha faz com que estas se separem ligeiramente, permitindo a drenagem dos produtos (ar ou fluido), logo após o que se encerram novamente impedindo o seu refluxo. A resistência que a válvula oferece à passagem destes produtos é mínima.

É um produto descartável, que funciona em qualquer posição, pelo que permite o tratamento em ambulatório de alguns pneumotórax.

 

1.4.2.2. Catéter de Baixo Fluxo

É também denominado por sistema de McSwain. Consiste num catéter fino de cerca de 50 cm de comprimento e 2,7 mm de diâmetro. A sua extremidade é arredondada e possui diversos orifícios laterais por onde se efectua  a drenagem. Na outra extremidade existe uma válvula unidireccional cujo princípio de funcionamento é idêntico ao da Válvula de Heimlich. Tem ainda a vantagem de ser completado por uma derivação abaixo da válvula unidireccional, pelo que é possível aplicar uma força de sucção ao catéter sem ter que efectuar desconexões ou alterações no sistema.

As vantagens são semelhantes às da Válvula de Heimlich, acrescidas de ser muito mais cómodo para o doente devido às suas reduzidas dimensões. A sua principal desvantagem é o seu preço.

 

1.4.3. Drenagem Passiva

É um tipo de drenagem que faz apelo à força gravitacional e à existência de uma pressão positiva intrapulmonar, para a concretização da drenagem pleural.

Pode ser realizada de um modo simples, isto é, o frasco que serve de selo de água é o mesmo que vai servir de colector do drenado, ou pelo sistema de duplo frasco, funcionando o primeiro frasco exclusivamente como colector e o segundo como selo de água.

Por este processo, a drenagem é efectuada lentamente e depende de factores individuais. As actividades de fisioterapia respiratória têm um papel preponderante neste tipo de drenagem.

É o processo de drenagem mais comummente utilizado.

 

1.4.4. Drenagem Activa

Quando se pretende acelerar a reexpansão pulmonar, drenar uma grande quantidade de líquido ou de ar ou, se se pretende corrigir uma fuga de ar há que aplicar uma força aspirativa contínua no sistema de drenagem.

Esta aspiração contínua é mantida constante e dentro dos níveis de segurança, pela colocação de um frasco a seguir ao de selo de água. Este segundo frasco tem como características especiais, para além de estar conectado a um sistema de vácuo, o facto de possuir uma vareta que tem uma das extremidades mergulhada (cerca de 20 cm) num liquido estéril e a outra extremidade aberta para o ar atmosférico. Deste modo, independentemente do valor de sucção aplicado pelo sistema de vácuo, a força aspirativa é mantida constante, pois a aspiração excessiva efectuada pelo vácuo é compensada pela entrada de ar através da vareta.

A força aspirativa aplicada à cavidade pleural é a resultante da acção da imersão da tubuladura proveniente do catéter torácico e da quantidade de vareta imersa no segundo frasco. Por exemplo, se no primeiro frasco a tubuladura estiver mergulhada 2 cm e no segundo (ao qual está conectado o sistema de vácuo) a vareta estiver mergulhada 20 cm então a pressão aspirativa é de -18 cm H2O (i.e. 2-20 = -18).

Tal como acontece com o sistema passivo, pode ser colocado um frasco somente para colheita do produto drenado. Este frasco deve ser colocado interposto entre o catéter torácico e o frasco de selo de água.

 

1.4.5. Sistemas Descartáveis

Surgem como resposta a um dos principais problemas dos clássicos frascos - a quebra do selo de água. Os frascos, por serem de vidro e de grandes dimensões, quebram-se e caem com facilidade, pelo que é frequente o desenvolvimento de pneumotórax hipertensivo. Por outro lado é difícil de deslocar a unidade doente/sistema pela complexidade e peso do sistema.

Deste tipo de drenagem o sistema mais conhecido é o PLEUREVAC.

São feitos de um material plástico transparente. São leves, fáceis de transportar e de uso único.

Funciona de modo similar ao sistema de triplo frasco. Têm três câmaras: uma para recolha do produto drenado; outra para o selo de água e; a terceira destina-se à aplicação de um sistema de vácuo. Por serem transparentes é possível observar o funcionamento de cada uma das câmaras.

Com estes sistemas é possível a recolha de produto para análise sem ter que se abrir o colector.

 

1.5. Riscos e complicações

Sendo uma técnica invasiva, a drenagem torácica não é isenta de riscos e, por vezes, surgem complicações, algumas das quais com gravidade.

As complicações mais frequentes são:

 

1) a hemorragia por lesão de um vaso (artéria intercostal, subclávia, mamária, etc.); ou por oclusão do tubo, mascarando assim a evolução de um hemotórax;

2) infecção devida sobretudo a uma manipulação incorrecta do sistema;

3) enfizema subcutâneo por deficiente posicionamento do catéter torácico;

4) abcesso da parede, resultado sobretudo de deficiente técnica ou a quebra do frasco colector.

 

1) quebra do selo de água. Surge por:

- colocação da tubuladura proveniente do doente acima do nível de água;

- o frasco com selo de água tombar;

- quebra do frasco com selo de água

 

 

2) desconexão acidental dos tubos;

 

 

Estes dois acidentes permitem a entrada brusca de ar para a cavidade pleural, do que vai resultar um pneumotórax extenso, normalmente hipertensivo.

 

 

3) elevação do frasco com selo de  água a um nível igual ou superior ao do doente. Este acidente leva a um refluxo do produto drenado e do líquido contido nos frascos colectores para a cavidade pleural, por um processo de sifão;

 

4) oclusão do tubo de drenagem por:

 

- acotovelamento do tubo;

- compressão por o doente se deitar sobre o tubo enquanto dorme;

- formação de coágulo ou de processo fibrótico junto dos orifícios de drenagem.

 

Esta situação conduz também ao desenvolvimento de processos hipertensivos no local afectado, devido à existência de um agravamento do derrame concomitante com a não efectivação da drenagem do ar ou líquidos acumulados.

 

1.6. Clampagem do sistema de Drenagem Torácica

A clampagem de uma drenagem torácica é realizada por duas pinças de Kocker, colocadas abaixo do catéter torácico. As pinças devem ser colocadas em sentido oposto e afastadas entre si cerca de 5cm. Esta dupla clampagem destina-se a aumentar a segurança - se uma pinça se abre a outra evitará a entrada de ar na cavidade pleural.

Um aspecto a ter em linha de conta é a necessidade de as pontas das pinças estarem protegidas por peças de borracha (ou compressas), para que não sejam praticados cortes no tubo de drenagem.

São indicação para a clampagem do dreno torácico:

 

1) a desconexão acidental dos tubos ou quebra dos frascos (colector ou de selo);

2) durante as operações de mudança de frasco ou de abertura dos mesmos;

3) no transporte do doente.

 

A clampagem não é isenta de riscos. Ela funciona como oclusivo do tubo de drenagem. Por impossibilitar a drenagem ela pode conduzir a um agravamento do derrame, com os consequentes riscos para o doente: lesão pulmonar; distúrbio cardíaco; alteração da ventilação. Por isso mesmo a clampagem deve ser efectuada no final da fase expiratória.

Excepto se se está a avaliar a tolerância do doente à clampagem, esta deve ser mantida pelo menor espaço de tempo possível. Os riscos que coloca assim o justificam. Num indivíduo com um clampe colocado, a pressão intrapulmonar pode ser aumentada diversas vezes, se o indivíduo tosse ou se o derrame se agrava. Este evento, pode vir a desencadear um agravamento da situação - por exemplo, pode reactivar uma fístula broncopleural.

 

2. Acções de Enfermagem

 

2.1. Antes e durante o procedimento

 

- Verificar antecipadamente se as radiografias torácicas foram solicitadas e realizadas e se o consentimento informado foi assinado;

- Determinar se o paciente é alérgico ao anestésico local a ser usado. Aplicar a sedação se prescrita.

- Informar o paciente sobre o procedimento e indicar como ele pode ajudar.

 

Explicar o seguinte:

1) a natureza do procedimento;

2) a importância de ficar imóvel;

3) as sensações de pressão que vão ser experimentadas;

4) que não haverá desconforto depois do procedimento.

 

- tornar o doente confortável com apoios adequados, se possível, deixá-lo erecto e numa das seguintes posições:

. sentado na beira do leito com os pés apoiados e com os braços e a cabeça sobre almofada sobre o leito;

. cavalgado numa cadeira com os braços e a cabeça repousando no encosto;

. deitado sobre o seu lado não afectado com o leito elevado entre 35 a 45º caso ele não consiga ficar sentado.

 

- apoiar e tranquilizar o doente durante o procedimento.

. prepará-lo para a sensação de frio da solução germicida e para a sensação de pressão aquando da infiltração do anestésico local;

. estimular o doente a apoiar o tórax quando tossir

 

- expor todo o tórax, o local da introdução do dreno é determinado a partir de radiografias e por percussão;

- apoiar o doente durante o procedimento e fornecer meios de higiene, se necessários.

 

2.2. Depois do procedimento

- Avaliar o doente a intervalos de tempo com especial incidência para a alteração da frequência respiratória e/ou cardíaca, assimetria do movimento respiratório, desmaio, vertigem, opressão torácica, tosse incontrolável, muco espumoso e/ou sanguinolento e sinais de hipoxémia.

 

Após a colocação de drenos a intervenção de enfermagem é especialmente dirigida para a manutenção da permeabilidade e esterilidade do circuito.

 

- Conectar o tubo de drenagem do espaço pleural ao tubo que leva a uma parte submersa em líquido estéril. O tubo deve ficar aproximadamente 2,5cm abaixo do nível do líquido. A outra extremidade, mais curta deve ser ligada à aspiração.

- Marcar o nível de origem do líquido com adesivo, onde é marcada a drenagem horária.

- Assegurar-se de que a aspiração está funcionante e manter os tubos permeáveis.

- Manter o tubo direito, sem angulações que impeçam a drenagem ou a remoção de ar, o que interferiria com a regular reexpansão pulmonar ou provocar pneumotórax hipertensivo e o produto retido proporcionar um óptimo meio de cultura, propício à multiplicação de microorganismos.

- Vigilância do sistema, pode ocorrer borbulhamento inesperado, provocado pela fuga de ar do sistema.

- Mobilizar o doente sempre que possível para facilitar a drenagem.

- Mungir o dreno na direcção do frasco de drenagem, impedindo que ele se obstrua com coágulos e/ou fibrina, mantendo atenção constante à manutenção da permeabilidade do tubo, que proporciona uma rápida expansão do pulmão e minimiza as complicações.

- Assegurar de que há flutuação do nível do líquido no tubo de drenagem. Estas flutuações são interrompidas logo que o pulmão tenha reexpandido, quando o tubo estiver obstruído por coágulos ou fibrina, quando se desenvolve alça pendente ou quando o aspirador de parede deixou de estar funcionante.

- Observar e contactar o médico imediatamente se sinais de respiração rápida, cianose, pressão no tórax, enfisema subcutâneo ou sinais de hemorragia. Várias situações podem provocar esta sintomatologia, desde pneumotórax hipertensivo, desvio do mediastino, hemorragia, dor intensa, embolia pulmonar, tamponamento cardíaco. A intervenção cirúrgica pode ser necessária.

- Incentivar o doente a respirar profundamente e a tossir em intervalos frequentes. A respiração profunda e a tosse auxiliam a elevar a pressão intrapleural, que permite o esvaziamento dos fluidos acumulados e remove as secreções da árvore traqueo-brônquica, para que o pulmão se expenda e a actelectasia seja evitada. Daí a importância da administração de analgésicos ao doente para se obter colaboração.

- Quando necessário transportar o doente para outro local, colocar o frasco de drenagem abaixo do nível do tórax de modo a impedir o refluxo do líquido.

- Ensino do doente, visitas e outro pessoal para não deslocar o frasco de drenagem.

- Os drenos são removidos quando o pulmão estiver expandido, não ocorram fugas gasosas e as drenagens não sejam significativas (inferior a 150cc por 24 horas).

 

2.3. Protocolo de Drenagem Torácica

- Ligar todos os drenos à aspiração entre 20 - 30cc de água (drenagem activa);

- Manter drenos permeáveis;

- Avisar o médico se borbulharem em excesso;

- Mugir os drenos todos os 30 minutos nas primeiras horas (constantemente se estiver a sangrar). Quando o doente começar a ficar estável pelo menos de hora a hora. Posteriormente munge-se frequentemente de acordo com a situação;

- Avisar o médica se a drenagem for superior a 150cc/hora;

- Verificar a posição normal dos drenos:

.Mediastínico - esquerda (no mediastínico anterior);

.Pericárdico - direita (no saco pericárdico);

.Pleural (só quando há abertura da cavidade pleural e é utilizada a mamária).

 

- Colocar uma tira de adesiva verticalmente no frasco de drenagem marcando com um traço horizontal correspondente à drenagem e marcando a hora respectiva de leitura;

- Considerar drenagem excessiva e, por consequentemente, com necessidade de reexploração cirúrgica os seguintes valores:

. 400cc na primeira hora;

. 250cc/hora nas quatro horas seguintes;

. um total máximo de 1250cc nas 5 primeiras horas.

 

- Se houver suspeita de alterações da coagulação, os seguintes testes devem ser realizados antes de considerar a reintervenção:

.ACT (Hemocron - tempo de coagulação activada)

Se maior do que 150 considerar Protamina (neutralizar Heparina)

.Provas de coagulação:

.protrombinémia;

.tempo de Cefalino, Caulino e tempo de Quick;

.plaquetas;

.fibrinogénio.

 

2.4. Material necessário para a colocação de um dreno torácico

. Desinfectante para a pele (iodopovidona dérmica);

. Seringa;

. Agulhas;

. Anestésico local (Xilocaína a 2 %)

. Lâmina de bisturi;

. Kit de pequena cirurgia;

. Luvas esterilizadas;

. Dreno torácico (normalmente 28 ou 32, consoante o que se pretende drenar. 28 mais utilizado para ar e 32 mais utilizado para líquidos.);

. Frascos de drenagem com tubuladura;

. Clampes;

. Fios de sutura (nylon 2/0 com agulha lanceolada);

. Preparar sistema para drenagem activa, se for necessário.

 

2.5. Técnica asséptica para remoção de drenos torácicos

Os drenos são retirados após confirmação de total reexpansão pulmonar, as drenagens não são significativas ou ausência de fugas gasosas (pode ir de 24 horas até vários dias).

Durante a remoção de drenos as prioridades principais são a prevenção da infecção e da entrada de ar.

É muito importante que se obtenha a colaboração do doente, daí a importância dada à preparação psicológica e explicação de todo o procedimento. Se for necessário deve ser administrado analgésico 30 minutos antes da remoção dos drenos.

Se o doente está colaborante, explicar-lhe que quando lhe for solicitado deve fazer uma inspiração profunda, determinando assim uma hipertensão intratorácica evitando a entrada de ar durante a manobra de Valsalva.

 

São necessários dois enfermeiros (um executante e outro ajudante).

Ter o material preparado:

. Clampes;

. Material de pensos;

. Campo esterilizado;

. Soro fisiológico;

. Desinfectante (Iodopovidona dérmica);

. Gaze gorda;

. Luvas cirúrgicas;

. Batas esterilizadas;

. Máscaras;

. Adesivo.

 

Lavar e desinfectar a incisão.

Clampar os drenos.

Certificar que o dreno está solto fazendo-o rodar; retirá-lo num só movimento rápido, durante uma inspiração, pressionando ao mesmo tempo com gaze gorda e uma compressa. Simultaneamente o ajudante segura o fio de sutura deixado aquando da introdução do dreno e aperta-o unindo os bordos do orifício.

Aplicar penso asséptico.

Fixar com adesivo compressivo.

Providenciar execução de radiografia torácica para controle.

Se se tratar de dois drenos pleurais, o anterior e o posterior, primeiro deve retirar-se o posterior, que se encontra a nível do seio costo-frénico, só depois o anterior, que se encontra a nível da linha média axilar. Assim, se eventualmente ocorrer entrada de ar quando se retira o posterior este ainda é drenado pelo anterior. Razão também porque não devem ser clampados ao mesmo tempo ambos os drenos.

 

3. Dreno torácico e actividade física

A presença de um dreno torácico não é impeditiva da mobilidade geral do indivíduo. No entanto, o sistema de drenagem pode limitar a deslocação do indivíduo na unidade de internamento. Por exemplo, o indivíduo com um sistema aspirativo e em selo de água, embora se possa sentar na cama ou deslocar-se em torno dela, está sempre limitado pelo comprimento do tubo que vai do catéter torácico até ao frasco colector e deste ao sistema de aspiração. A introdução dos sistemas descartáveis e das válvulas unidireccionais, veio obviar um pouco este aspecto.

A dor provocada pela situação base, associada ao incómodo, desconforto e mesmo a alguma dor produzida pela presença do próprio dreno pode também ser um factor condicionante da mobilidade do doente. O medo sentido pelo doente, a par da (des)informação fornecida pelos profissionais de saúde pode também condicionar a actividade geral do indivíduo.

Independentemente destes aspectos, o doente deve ser sempre encorajado a tossir e a efectuar inspirações profundas periodicamente. Pois estas actividades facilitam a reexpansão pulmonar e previnem a infecção e a atlectasia.

 

4. Auto-imagem e auto-conceito

A imagem corporal, em termos de estrutura e de funcionalidade é construída ao longo da vida do indivíduo, acompanhando o seu crescimento e o seu desenvolvimento. Inicia-se com as carícias maternas e vai-se modificando e adaptando às alterações orgânicas e morfológicas do corpo. No entanto esta estruturação não é uniforme nem pacífica - ela é acompanhada por períodos de crise e de conflito intrapessoal, ao qual o indivíduo tem que dar resposta, com ou sem auxílio externo.

Toda a ameaça à estrutura aceite é elemento gerador de grande tensão e de conflito, uma vez que há uma dissociação entre o Eu físico, assumido, e o Eu real, mas desadaptado em relação ao anterior.

A presença de um dreno torácico vai gerar esse conflito intrapessoal. Embora o doente veja nele um método terapêutico eficaz, vê-o também e em simultâneo como um apêndice ao seu organismo. Esta dualidade entre a necessidade e o alheio é a verdadeira fonte de tensão, de angústia e de ansiedade.

 

Bibliografia

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